segunda-feira, 26 de julho de 2010

E se as pessoas realmente dissessem aquilo que pensam?

Esse texto ainda concentra uma certa atualidade....



Preocupar-se com originalidade, principalmente agora, em tempos de internet e hipertexto, é uma tarefa quase inútil, uma vez que as ideias coadunam-se como sempre coadunaram-se. E atualmente é muito mais fácil descobrir alguém desenvolvendo exatamente o mesmo argumento que você, seja na Tailândia ou em Mateus Leme: para isso basta um simples acesso ao Google.
Com esse espírito, falarei hoje sobre um assunto a meu ver muito interessante, que tem feito parte da vida da maioria das pessoas há anos, ou melhor, há séculos: a mentira. Deixo claro que não verei aqui o ato de mentir somente como algo negativo, depreciativo, mas como algo que faz parte da existência humana, que nos torna maiores ou menores.
Assistindo a um episódio do seriado americano "Seinfeld" (um dos meus prediletos, por sinal) deparei-me com uma pergunta feita pelo protagonista do show, logo na primeira cena: “E se as pessoas realmente dissessem tudo o que pensam?" Segundo o comediante, o mundo ficaria inviável, a convivência seria inviabilizada. Não sei se concordo ou discordo com tal radicalismo, portanto, aprofundemos.
Para este simples ser pensante que vos dirige essas tão ressaqueadas palavras, a verdade é nada mais nada menos do que a perfeita expressão da realidade. Tão óbvio quanto essa assertiva é a capacidade que temos de falsear uma verdade quando não achamos conveniente dizê-la de bate-e-pronto.
Para ilustrar, tomemos como exemplo o comportamento verbal da mais sincera criatura que habita a terra: a criança. Na semana passada deparei-me com uma situação interessante. Estava numa lanchonete apreciando um delicioso pastel frito de carne (uma das minhas comidas prediletas), quando chegou um pai acompanhado de um casal de filhos. Fizeram suas escolhas, comeram salgadinhos, pães de queijo e tomaram refrigerante. Quando terminaram e o pai se apresentava para pagar a conta, o menino apontou para um cartaz de polpas de frutas e disse:

- Pai! Olha quanta fruta tem aqui! Tudo colorido!

Uma simples admiração frente ao marketing bem-empregado da oferta excessiva, não fosse pela falseação discursiva utilizada por esse pequeno homem de aproximadamente 9 anos. Sei que ainda não ficou claro o que quero dizer, então, vamos ao esqueminha:



Podemos concluir, através da observação desse cotidiano exemplo que a criança, no intuito de atingir seu objetivo, opta por não dizê-lo diretamente, evitando um não que, administrado com muito cuidado, pode converter-se em um possível sim.
Após esse inverossímil exemplo, protagonizado por uma criança que busca uma alimentação mais saudável, se ainda não ficou claro onde quero chegar, vamos a um exemplo de comportamento discursivo mais adequado à realidade adulta.
Imagine aquela amiga que acabou de cortar o cabelo, estabelecendo uma mudança radical em sua vida, vem até você e pergunta se ficou bom. Voltemos ao esquema:


Dessa forma, imbuídos da habitual pretensão acadêmica desse blog, revisitando a teoria psicanalítica, percebemos,no seu cerne, a seguinte afirmação: onde houver id haverá ego à custa de dor, frustração, aceitação e amadurecimento, ou seja, conforme conclusão obtida em uma conversa descompromissada com um aluno do meu curso permanente de gastronomia, numa aula de risoto de gorgonzola com pêra: é preciso que não mintamos a nós mesmos, que não nos enganemos com falseações da realidade que nos levam a equívocos e decisões desacertadas. Uma mentirinha aqui, outra ali, são necessárias para um convívio harmônico entre os homens. O que não podemos, é nos enganar e inventar uma realidade paralela para nós mesmos, com o perdão da redundância.

Obs.: Para os que ficaram curiosos com o risoto, deixo a receita.

Ingredientes
02 xícaras (chá) de arroz arbóreo
05 colheres (sopa) de queijo gorgonzola
02 colheres (sopa) de azeite de oliva
01 colher (sopa) de manteiga
½ cebola picada
01 xícara (chá) de vinho branco seco
1 ½ de caldo de galinha (se for usar cubos, dissolva apenas 2)
02 pêras
Queijo parmesão ralado a gosto
Pimenta-do-reino moída na hora a gosto

Modo de Preparo

1. Leve uma panela com o caldo ao fogo alto. Quando ferver, abaixe o fogo para o mínimo possível.

2. Descasque as pêras e corte-as em fatias de 1 cm espessura. Corte as fatias em tiras de 1 cm de largura e as tiras em cubos de 1 cm. Transfira os cubos para uma tigela e regue com o suco de 1/2 limão para que as peras não escureçam. Misture bem e reserve.

3. Numa panela, acrescente o azeite e leve ao fogo baixo. Quando estiver quente, coloque a cebola picada e mexa bem por cerca de 4 minutos ou até que fique transparente.

4. Aumente o fogo e acrescente o arroz. Refogue por 2 minutos, mexendo sempre.

5. Adicione o vinho e misture bem até evaporar.

6. Quando o vinho secar, coloque uma concha do caldo e mexa sem parar. Quando secar, adicione outra concha e repita a operação durante 15 minutos, sempre em fogo alto.

7. Acrescente o queijo gorgonzola e as peras escorridas à panela do risoto e misture bem.

8. Verifique o ponto: o risoto deve ser cremoso, mas os grãos de arroz devem estar al dente, ou seja, um pouco durinhos. Porém, se ainda estiver muito cru, continue cozinhando por mais 1 minuto. Se for necessário, junte um pouco mais de caldo e mexa bem. Na última adição de caldo, não deixe secar completamente ou o resultado será um risoto ressecado.

9. Desligue o fogo, acrescente a manteiga sem misturar e tampe a panela. Neste ponto, todos os convidados devem estar à mesa.

10. Tempere com a pimenta-do-reino, de preferência moída na hora, mexa o risoto vigorosamente, divida em quatro pratos e polvilhe com o queijo parmesão, cerca de 1 colher (sopa) por prato. Sirva imediatamente.

Nota: Não é necessário temperar com sal, pois os queijos e os cubos de caldo de galinha já são bem salgados.

À propósito, não utilizei pêra, pois aqui em casa não tinha. Utilizei melão, mas como uma mentirinha não faz mal a ninguém....

2 comentários:

  1. Este comentário foi removido pelo autor.

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  2. As pessoas não dizem tudo o que pensam porque dizer a verdade pode se traduzir em falta de simpatia e prejudicar a aquisição de benefícios para si. Um empregado pode elogiar o cabelo horrível de sua chefe, se passar por simpático e por isso conseguir uma promoção.
    Para efeito neutro: oculte.
    Já diziam grandes filósofos da região - Gino e Geno: Finja de leitão para poder mamar deitado.
    No mais, gostei da estruturação do texto, principalmente da ligação melão-pêra-mentira.

    Bjuss Ferdinando!
    E ah... vi seu nome escrito. Na música da Lady-Gaga: Alejandro. Posso estar enganada, mas até então ninguém fez música com seu nome... então enjoy! =D

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